Tinha acabado de deletar as fotos
do computador. Agora além dos porta-retratos que temos de substituir por vasos
de planta e das gavetas que temos de esvaziar, temos – será que temos? – de apagar
as mensagens do celular, das redes sociais, do correio eletrônico,
etc. Isso tudo para uma finalidade: passar uma borracha na lembrança. Se já é
inevitável lidar com a imagem impregnada na memória, com o perfume que assombra
de vez em quando, com a música que toca naquele momento inoportuno, por que não
evitar os outros fantasmas? Algumas pessoas ainda precisam de espetáculos
ritualísticos: incinerar todos os pertences do falecido(a)!
Depois
desse processo doloroso de expurgação, começa a travessia peregrinatória do
indivíduo em busca de outro indivíduo. Ele vai dizer: “não estou preparado para
outro relacionamento”, “é muito difícil arranjar alguém
que queira alguma coisa séria”, “as pessoas estão muito superficiais”, e por aí
vai. Mas lá naquele pensamento profundo, quase inadmissível, o novo solteiro
acostumado a relações “estáveis” alimenta esperanças para o futuro. Os dias
passam, passam os meses, e após muitas decepções e situações inusitadas, às vezes
regadas por muito teor alcoólico, eis que acontece o tal do “encontro” promovido
pelo Cosmos. Vem, então, a frase – só que agora imbuída de certa reflexão – “quando a
gente está esperando, nunca acontece”.
Fechamos
o ciclo. Pesquisa astrológica só por curiosidade. Compramos bombons.