Eu me dobro sobre as fotos, como
quem se dobra sobre si mesmo para laçar o que era aquilo, o que era por trás da
imagem aquele dia das férias, aquela foto no avião, aquele jantar de
aniversário. E com o tempo, o esforço fica maior e inútil: se já morreu, se já
casou, se já encontrou uma terra firme. Queremos terra para tirar os sapatos. Precisamos
alinhar feito navio que aporta em algum destino. Mas sempre se navega para
desencontrar, porque o porto é concreto, é areia e pedra, enquanto o homem é
oceano de água, sal e detritos. Então raspamos nossos cascos, cravamos as unhas
em qualquer solo que se nos apresente, porque o que se deseja quase sempre é
abafar o outro dentro de si, fagocitá-lo para defender o próprio organismo e
preencher o vazio que não se cala. Assim, a doença mostra sintomas, vai se
intumescendo, o outro cresce, incomoda, dói. Por fim, temos que expelir ou ser
expelidos, incompatibilidade de sangues,
metástase. A foto se torna rasa, sem perspectiva, os aniversários que passamos
juntos são aniversários de um tempo estéril, apenas porque ainda há instinto de
sobrevivência na minha alteridade. Ainda há dobras. Meu abdome se contrai. Ou essas experiências vão
te roubar a saúde ou vão te fortalecer o organismo, penso. Por isso ando seco,
para virar adubo.
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