quinta-feira, 12 de julho de 2012


Eu me dobro sobre as fotos, como quem se dobra sobre si mesmo para laçar o que era aquilo, o que era por trás da imagem aquele dia das férias, aquela foto no avião, aquele jantar de aniversário. E com o tempo, o esforço fica maior e inútil: se já morreu, se já casou, se já encontrou uma terra firme. Queremos terra para tirar os sapatos. Precisamos alinhar feito navio que aporta em algum destino. Mas sempre se navega para desencontrar, porque o porto é concreto, é areia e pedra, enquanto o homem é oceano de água, sal e detritos. Então raspamos nossos cascos, cravamos as unhas em qualquer solo que se nos apresente, porque o que se deseja quase sempre é abafar o outro dentro de si, fagocitá-lo para defender o próprio organismo e preencher o vazio que não se cala. Assim, a doença mostra sintomas, vai se intumescendo, o outro cresce, incomoda, dói. Por fim, temos que expelir ou ser expelidos,  incompatibilidade de sangues, metástase. A foto se torna rasa, sem perspectiva, os aniversários que passamos juntos são aniversários de um tempo estéril, apenas porque ainda há instinto de sobrevivência na minha alteridade. Ainda há dobras. Meu abdome se contrai. Ou essas experiências vão te roubar a saúde ou vão te fortalecer o organismo, penso. Por isso ando seco, para virar adubo. 



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