A maravilha de um relacionamento
é perceber o esforço do outro para te entender. É claro que um mais um são
dois, mas a tentativa de se tornar um é o que torna o amor esse sentimento
sublime com o anseio de trajetória épica. Ah, mas os corações endurecidos com
tanto tropeço dirão que não existe o amor complementar, o amor deve ser
suplemento, um adorno para tornar nossos dias mais belos. Concordo, em algum
aspecto.
Quem já viveu um relacionamento
duradouro sabe que o outro, inevitavelmente, acaba se infiltrando em nossos
meandros como se fosse substância de nossa substância, alterando o fluxo das
veias, o batimento cardíaco e até o nosso controle emocional. O outro já faz
parte de mim! A despeito de tanta roupagem romântica que os céticos querem despir
rebaixando o amor a essa coisa alheia e menor, sinto eu que o amor está
sacramentado, é estar preso por vontade, por isso te amo como um bicho, por que
o que pode as criaturas senão amar?
Sim, somos autônomos. Solitários
inconsoláveis, integridades individuais, bibelôs de louça que trocamos de lugar
para mudar os ares da decoração? Não sei. Realmente não sei. É que agora me
arrebata um sentimento que não me permite pensar de maneira isenta, porque
metade de mim é amor, e a outra metade também. Mas meus amigos vão fincar meus
pés no chão, vão me dizer para ir devagar, recomendar cautela, etc. A razão é o
consolo, é o “the dream is over”, é o cerne dessa realidade monótona e
empalidecida.
Na direção contrária, vejo tudo
misturado, um espelho sem razão, coração na boca para dizer que te amo. Afinal,
só as criaturas que nunca escreveram cartas de amor é que são ridículas. O amor
me complementa a ponto de dizer que agora faz sentido. Ele é essa voz essencial
dentro de mim. É a minha voz.